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A História de coquetéis clássicos - parte II

Marcelo Sant'Iago

14/11/2018 13h16

Depois de falar sobre a história do Bloody Mary, Daiquiri, Espresso Martini, Gin Tônica, Mojito e Moscow Mule , vamos fechar nossa série com mais 5 coquetéis.

Cosmopolitan

O Cosmo, para os íntimos, é um coquetel com diferentes encarnações desde 1934. A versão mais moderna tem pelo menos duas pessoas como possíveis criadores: Cheryl Hook, na Miami Beach dos anos 80, e Toby Cechini, em Nova York. Toby diz que reformulou um drink muito desequilibrado e popular na cena gay da costa oeste dos EUA e o transformou no que bebemos hoje, utilizando especificamente Absolut Citron. Dizem que Cheryl também criou o seu Cosmo com Citron, porém, em 1985, quando ela afirma ter criado o drink, a Absolut ainda não havia lançado essa variação.

Mas, quem realmente popularizou o coquetel foi o lendário bartender Dale DeGroff, no balcão do Rainbow Room (de onde comandou o renascimento da coquetelaria artesanal) no Rockfeller Center, em Nova York. Foi ele quem criou o twist de casca de laranja flamejante, que virou parte da receita considerada padrão. Ajudado por isso e por uma foto de Madonna bebendo Cosmo em seu bar, o coquetel explodiu para o mundo fashionista. Depois, claro, os criadores de Sex and the City aproveitaram a onda.

Dry Martini

Roosevelt Dry Martini (2 azeitonas) no Terraço Itália, em SP.

Talvez o mais conhecido famoso dos coquetéis, tem autor desconhecido e sua origem data do século XIX. O coquetel Martini nasceu doce e foi "secando" com o passar dos anos, com a popularização do gin London Dry e do vermute seco. O Martini vem de uma família de coquetéis que inclui o Martinez (que por sua vez descende do Manhattan), Bradford a la Martini, Marguerite, Olivette, Crisp Cocktail, entre outros. A primeira menção de um coquetel chamado Dry Martini é em um livro francês de coquetelaria, publicado em 1903. Apesar da fórmula simples (gin, vermute seco e bitters), suas proporções de gin para vermute variam muito, desde 1:1 até 15:1. A proporção mais adequada para o paladar médio é 5:1. Algumas formulações incluem o vermute apenas na hora de gelar o copo misturador e outros apenas lavam a taça com ele. Churchill preferia o seu apenas com gin gelado diluído. Reza a lenda que a garrafa de vermute era deixada ao lado, com o rótulo virado para França.

Outra coisa: James Bond nunca bebeu seu Dry Martini com gin, sempre com vodka. Ou, sua própria criação, o Vesper (gin, vodka, Lillet).

Margarita

Antes de mais nada: Margarita. Marguerita é a pizza

Margarita é margarida em espanhol e daisy em inglês. Daisy era um estilo de coquetel muito popular no início do século XX, feito com cítrico, xarope ou licor e destilado. Por isso, há quem diga que ele nasceu como Tequila Daisy. Também pode ser considerado um Tequila Sour e Tequila Sidecar.

Em 1937, 16 anos antes da primeira menção conhecida de um drink chamado Margarita, surge em Londres o Picador cuja receita é a mesma. O nome Margarita surge nos anos 50 na revista Esquire e há uma lista de supostos criadores, sendo o mais conhecidos: Vernon Underwood, cuja esposa chamava Margaret; Doña Bertha, do Bertha's Bar; Danny Negrete, bartender mexicano; Pancho Morales, supostamente para uma cliente chamada Margarita; Danny Herrera para uma cliente chamada Marjorie (que se traduz Margarita em espanhol) King; Margaret Sames, em uma festa natalina em sua mansão em Acapulco.

Negroni

Negroni de Lavanda, no Dante, em Nova York

A versão mais conhecida e defendida pela Campari: em 1919 o Conde Camilo Negroni pediu ao bartender Fosco Scarcelli, do Casoni Bar em Florença, para criar um Americano (Campari, vermute tinto e club soda) mais potente. Fosco trocou club soda por gin e presto!

Mas, há evidências de que o coquetel já existia, com proporções diferentes, como no Camparinete, um drink popular no século XIX.

O bartender e escritor gaz Regan diz que "graças a Dom Costa, sabemos que o Negroni veio do Americano, que era baseado no Milano Torino e que por sua vez era uma versão do Torino Milano". Simon Difford nos revela que "a história mais fascinante de todas é a receita do Campari Mixte, publicado em L'heure du Cocktail, em 1929: partes iguais de gin, Campari e vermute italiano, com zest de limão".

Quer mais polêmica? George Kapeller, em 1895, publicou em seu livro a receita do Dundorado: partes iguais de gin e vermute italiano (doce) e um pouco de Calisaya, que é um bitter de cinchona um pouco menos doce que Campari (cuja receita, aliás, leva cinchona).

Old Fashioned

Old Fashioned no Dandelyan, Londres.

Destilado, água, açúcar, bitters. Essa é a forma elementar de um cocktail, desde 1806, quando essa palavra foi usada pela primeira vez em uma publicação impressa.

Old Fashioned nasceu no século XIX como Whiskey Cocktail e possivelmente sua base era uísque de centeio, pois o bourbon não era tão popular nessa época. Assim como outros clássicos, ele era consumido preferencialmente pela manhã (!) e servido "up", sem gelo no copo. No final do século, novos licores entraram no mercado norte-americano e os bartenders começaram a "incrementar" seus coquetéis de uísque, criando o chamado Improved Whiskey Cocktail. Os tradicionalistas se opuseram à novidade e começaram a pedir seu coquetel de uísque no estilo tradicional ("the old fashioned way") e daí o nome Old Fashioned. Foi nessa época que ele começou a ser servido on the rocks, como bebemos hoje.

Sobre quem criou, a versão mais popular é que ele surgiu no Pendennis Club, em Louisville. Mas, não há evidências que corroborem isso, pois como afirma Robert Simonson em seu livro sobre a história do Old Fashioned, há inúmeras menções anteriores ao Pendennis. No máximo, lá foi criada a versão com frutas maceradas.

Curiosidade: se você pedir um Old Fashioned no estado de Winscosin, nos EUA, ele será feito com brandy e não uísque. E com frutas maceradas.

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Sobre o autor

Marcelo Sant'Iago é publicitário e editor no Brasil do Difford's Guide, maior site de receitas de coquetel do mundo. Fã das Aventuras de Tintim, passa boa parte do ano visitando os melhores bares e eventos no exterior, em busca de novidades e tendências que possam ser compartilhadas para trazer aprimoramento ao mercado brasileiro de coquetelaria. Recentemente foi homenageado com um drinque no Sub Astor, o Sant'Iago Fashioned. Ele é colaborador de revistas, consultor e o único brasileiro a fazer parte do Drink Tank, primeira rede global de inteligência voltada para a indústria de bebidas.

Sobre o blog

Pense no balcão do seu bar favorito, aonde você toma bons drinques, conhece pessoas interessantes, conta casos, aprende sobre coquetelaria com bartenders e descobre novos bares para o próximo gole. Saúde!

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