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Como será 2019 nos bares brasileiros

Marcelo Sant'Iago

09/01/2019 13h21

Não se trata de futurologia, mas apenas um exercício de observação sobre algumas coisas que eu acredito que vamos ver e outras nem tanto nos bares brasileiros. Além disso, claro, falo de algumas preferências pessoais.

Seja nas garrafadas da Néli Pereira, do Espaço Zebra, no menu inspirado nos biomas brasileiros do Fabio La Pietra, do Sub Astor, ou nos modernos e elegantes coquetéis de Márcio Silva, do Guilhotina, os ingredientes brasileiros estão cada vez mais presentes em coquetéis. E não falo apenas da cachaça, mas de ervas, raízes, infusões, fermentados e destilados regionais. Isso é muito bom, pois faz parte da criação de uma identidade nacional na coquetelaria, assim como já aconteceu na gastronomia. Mas é preciso muito estudo e conhecimento no trato desses ingredientes, para que resulte em algo agradável de beber e não apenas em um coquetel pitoresco.

Menu do Sub Astor inspirado nos biomas brasileiros

Seguindo uma tendência internacional, eu gostaria de ver mais highballs nos bares (destilado e um carbonatado não alcoólico, servido no copo longo com gelo). Para quem não sabe, o Gin Tônica é um highball, assim como o Moscow Mule, o Dark 'n' Stormy e o Jack&Coke. Mas estou falando de variações mais modernas, com reduções, bitters, sucos e vinhos fortificados. Tem tudo a ver com nosso clima e, em sua essência, são drinks fáceis de preparar (em casa inclusive) e beber, pelo baixo teor alcoólico (grande tendência hoje em dia). Isso é mais uma expectativa do que tendência, pois eu falei sobre Daiquiri em 2017 e ele realmente nunca explodiu.

Assim como passarela de moda não é rua, Instagram não é bar e balcão de bar não é campeonato de coquetelaria. Não tem coisa mais chata do que decoração complicada, que mais atrapalha do que valoriza um coquetel. Muitas vezes elas sujam as mãos, espetam o nariz ou o olho e você não sabe nem por onde começar a beber. Você abre o Instagram e vê coisas inacreditáveis sendo postadas e repostadas, como sendo #tendência. Eu não quero ter uma "experiência", eu quero apenas beber um coquetel. Então, eu gostaria de ver decorações mais simples nos coquetéis. Isso já é constante nos melhores bares do mundo que estão na lista 50 World's Best Bars: um twist para extrair os óleos essenciais e estamos conversados.

Pouca ou nenhuma decoração: tendência nos melhores bares do mundo, na Europa e EUA

Nessa mesma linha, tenho visto coquetéis com 6, 7, até mesmo 9 ingredientes! Sabe o quê o Daiquiri, Dry Martini e Negroni tem em comum? São coquetéis clássicos com apenas 3 ingredientes. Menos é mais. Mas, acredito que continuaremos a ver coquetéis autorais com muitos ingredientes em 2019, pois são muitos os profissionais de bar que acham que apenas assim conseguirão mostrar todo seu talento de combinar sabores. Ledo engano: a lendária bartender Audrey Saunders diz que "um coquetel de 3 ingredientes não mente, não tem aonde o bartender se esconder".

Clássicos com 3 ingredientes

Como antítese dos dois pontos cima – decorações complicadas e muitos ingredientes – gosto sempre de citar um ótimo exemplo de coquetel autoral, que é o Macunaíma, criação do Arnaldo Hirai, no bar Boca de Ouro, em São Paulo: cachaça, fernet, suco de limão e xarope de açúcar. Simples, fácil de reproduzir e delicioso. Por isso, já virou um clássico entre bartenders e clientes do bar.

Macunaíma, do bar Boca de Ouro

Apesar da febre dos drinks com muito ingredientes, em 2019 a coquetelaria Tiki não vai pegar mais uma vez, mesmo estando em alta nos EUA e na Europa. Tiki nasceu nos EUA, no pós-guerra, e cresceu durante a Guerra Fria. Com seus ingredientes tropicais e ambientação ligada às ilhas do Pacífico, Tiki tem a ver com escapismo de tensões políticas e do dia a dia, em um hemisfério onde há invernos rigorosos na boa parte do ano. Apesar de nosso clima ser propício aos divertidos e exóticos coquetéis Tiki e de todo o recente extremismo exacerbado em nossa política, ainda assim acho que o apelo não é suficiente para embalar a categoria.

No mais, sustentabilidade, equidade de gênero e preocupações com saúde de profissionais continuam  temas cada vez mais importantes também na indústria de bebidas e alimentos.

Saúde e Feliz 2019!

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Sobre o autor

Marcelo Sant'Iago é publicitário e editor no Brasil do Difford's Guide, maior site de receitas de coquetel do mundo. Fã das Aventuras de Tintim, passa boa parte do ano visitando os melhores bares e eventos no exterior, em busca de novidades e tendências que possam ser compartilhadas para trazer aprimoramento ao mercado brasileiro de coquetelaria. Recentemente foi homenageado com um drinque no Sub Astor, o Sant'Iago Fashioned. Ele é colaborador de revistas, consultor e o único brasileiro a fazer parte do Drink Tank, primeira rede global de inteligência voltada para a indústria de bebidas.

Sobre o blog

Pense no balcão do seu bar favorito, aonde você toma bons drinques, conhece pessoas interessantes, conta casos, aprende sobre coquetelaria com bartenders e descobre novos bares para o próximo gole. Saúde!

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