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Vai beber o quê?

Marcelo Sant'Iago

19/09/2018 12h21

Essa pergunta é mais complicada do que parece e pode ser motivo de dor de cabeça para você e aos bartenders.

Ela me lembra a famigerada redação "Tema Livre" na época do colégio: a maioria acabava escolhendo o tema "Minha Férias", até que um dia resolvi fazer a minha redação exatamente sobre as dificuldades de se escrever sobre tema livre, sem regras pré-definidas. Fiz sucesso com a classe, mas a professora não gostou tanto da minha ideia original.

Enfim, no bar, "tema livre" também pode ser complicado. Um menu serve exatamente para dar direcionamento, certo? Mas há bares que 1) não tem menu de drinks (tipo Attaboy em Nova York e Bisou em Paris) e o bartender vai sugerir de acordo com o paladar e direcionamento que você der; ou 2) além do menu, você pode pedir "qualquer clássico que nossos bartenders saberão preparar". Na prática, não funciona bem assim, pois veja só: o Difford's Guide lista mais de 650 receitas só de gin; no total, são mais de 4 mil com diversos tipos de destilados.

Por outro lado, alguns bebedores têm o hábito de dizer ao bartender "Ah, não sei, surpreenda-me!" Pronto, você acaba de entrar para uma lista negra! A melhor história sobre o "surpreenda-me" é a de um bartender brasileiro famoso que borrifava água nos clientes que diziam a famigerada frase. "E aí, surpreendi você?".

Brincadeiras à parte, aprender algumas famílias de drinks pode ajudar na sua escolha ao ler um menu ou para quando um bartender for sugerir algo conforme com seu paladar ou referência de coquetel. Por exemplo, vamos pegar o G&T, Negroni e Moscow Mule, que estão entre os drinks mais populares no Brasil hoje, sem contar a Caipirinha, claro.

Negroni é um aperitivo com um "amargo italiano" (normalmente Campari). Nessa linha, você pode querer experimentar o Americano, Boulevardier ou Old Pal (com uísque), Cardinale, Negroni Sbagliato (com champanhe). Negroni com Mezcal no lugar do gin também fica delicioso.

Gin&Tônica é um Highball (leva destilado e um mixer, no caso tônica), assim como é o Moscow Mule original, que não tem espuma entre os ingredientes. Experimente um Dark 'n' Stormy (com rum) ou um Mamie Taylor (com scotch). Você pode fazer um highball com diversos tipos de destilados: scotch&soda, vodka&tônica, Jack&Coke, etc.

A Caipirinha é um Sour (mistura de destilado e suco de limão), categoria que abraça coisas deliciosas como Daiquiri (feito com rum, super versátil como a Caipirinha, pode ser servido em versões com frutas ou mesmo frozen), Whiskey Sour, Margarita, Aviation, Cosmopolitan, Last Word, Side Car. Entre os Sours também estão as famílias Collins (destilado, suco de limão siciliano, açúcar, gelo e água com gás) e Fizz (parecido com os Collins, também servido em copo longo porém menor e gelado apenas, sem gelo no copo). Outra família parecida com Collins é a dos Hickeys, que leva suco de limão.

Last Word (gin, Chartreuse verde, licor maraschino, suco de limão)

 

Se você gosta de Manhattan (uísque americano, vermute doce, bitters), experimente um Brooklyn, Bronx, Rob Roy, Toronto, La Louisiane, Rabo de Galo.

Para os fãs de Dry Martini (gin, vermute seco, bitters), vale lembrar que ele nasceu mais doce e foi ficando mais seco (dry) com o passar do tempo. São várias as versões, como o 50/50 (lê-se fifty-fifty, com proporções iguais de vermute e gin), Dirty (com salmoura de azeitona), Gibson (com cebola aperitivo  em conserva) e as que levam nomes famosos, como Churchill (só com gin gelado diluído), Montgomery (super seco, proporção 15:1) e Roosevelt (2 azeitonas). Experimente um Martinez (com vermute doce) que é considerado por muitos como o coquetel que originou o Martini (ele é um dos meus favoritos e o que eu uso para avaliar um bartender) e também o clássico Hanky Panky (vermute doce e toque de fernet). Nos anos 80-90 imperavam as versões com vodka, como Apple Martini, Watermelon Martini, Espresso Martini (drinks com café é uma tendência forte novamente) e o preferido de James Bond, o Vesper.

Prefere algo bem alcoólico, como um tradicional Old Fashioned? Então experimente um Vieux Carré, Sazerac ou apenas troque a base de uísque para brandy, rum, mezcal ou genever, por exemplo.

Se você quiser se aprofundar mais sobre as famílias de drinks, sugiro The Joy of Mixology, por Gary Reagan. Ele vai fundo nessa categorização em seu livro de 2003, que acaba de ser relançado em versão revisada e atualizada.

Saber pedir também é uma arte e pode influenciar diretamente sua experiência no bar.

Saúde!

Sazerac (uísque americano, xarope simples, Peychaud's Bitters)

(Todas as receitas desse post você encontra no Difford's Guide Brasil)

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Sobre o autor

Marcelo Sant'Iago é publicitário e editor no Brasil do Difford's Guide, maior site de receitas de coquetel do mundo. Fã das Aventuras de Tintim, passa boa parte do ano visitando os melhores bares e eventos no exterior, em busca de novidades e tendências que possam ser compartilhadas para trazer aprimoramento ao mercado brasileiro de coquetelaria. Recentemente foi homenageado com um drinque no Sub Astor, o Sant'Iago Fashioned. Ele é colaborador de revistas, consultor e o único brasileiro a fazer parte do Drink Tank, primeira rede global de inteligência voltada para a indústria de bebidas.

Sobre o blog

Pense no balcão do seu bar favorito, aonde você toma bons drinques, conhece pessoas interessantes, conta casos, aprende sobre coquetelaria com bartenders e descobre novos bares para o próximo gole. Saúde!

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